quarta-feira, 7 de abril de 2010

1808, do jornalista da Veja

Novamente, título proposital. Assim como em O Símbolo Perdido, o principal atrativo da obra é o seu autor. Entretanto, ha a diferença mais que marcante de estar muito mais bem situado temporalmente que o livro de Dan Brown. Laurentino Gomes, em uma sacada editorial poucas vezes vista para um autor brasileiro (é só ver a lista de mais vendidos, 5 livros de Stephanie Meyer, "eu tenho medo"), se aproveitou dos duzentos anos da vinda da família real portuguesa para o Brasil para lançar seus escritos sobre o tema. Mas, no final das contas, o livro só teve a projeção que teve pelo esforço da Editora Abril (que publica Veja) em divulgar o filho de um de seus empregados mais influentes (Gomes já fora editor de Veja).

1808 é um livro sobre história que se pretende (ou não, como tenta mostrar o autor) um livro de História. Em minha humilde opinião, 1808 não pode ser considerado uma ótima referência sobre o assunto para o estudo da História. Entretanto, cumpre muitíssimo bem o objetivo que seu autor diz se propor: divulgação científica (o nhenhenhé se História é ou não uma ciência a gente deixa para uma outra hora). A grande bronca que eu tenho sobre o livro é que, tendo tido bons professores de História no seu ensino médio, você já sabe pelo menos 70% do que está escrito no livro. O restante é composto de números e algumas informações menores, petit histoire, como diria um querido professor meu (sim, o Ibsen). Porém, uma outra grandiosíssima qualidade do livro é a transparência das referências bibliográficas, que se constituem um tesouro dentro de um livro que não supera em muito o comum.

Passando para aspectos mais formais, creio que esta confirma o que disse sobre este livro ser sobre História. Capítulos curtos, sem muita comunicação entre um e outro, sobre assuntos nucleares. Bem ao estilo divulgação científica. Entretanto, é essa forma mais simples que se mostra uma grande qualidade do livro, facilitando, e muito, sua leitura, que chega mesmo a ser gostosa, por vezes envolvente.

Quanto ao conteúdo, embora as comparações com números e a necessidade, satisfeita, de se dar uma panorama histórico geral da época, a parte que realmente nos envolve é o petit histoire. L. Gomes, apesar de usar com certa abundância desse recurso, no que vejo, não o abordou em sua completude. O ponto alto do livro são os relatos dos estrangeiros sobre o Brasil, como o de Maria Graham e Chamberlain, por exemplo.

Mais um ponto de crítica: os "caderninhos" de pinturas da época. É uma coisa meio que particular minha, mas eu realmente não gosto deles. Gosto das pinturas, gosto (ou não) do conteúdo do livro. Mas o problema é que, pela diagramação e a diferença do tipo de papel e tals, o tal "caderninho" fica escafurunchado no meio dos capítulos, interrompendo a leitura. Estabelece-se aquele momento de tensão: "Céus! Continuo a leitura ou paro para ver as figurinhas?". Problema menor, que só um chato mesmo repara.

Ponto positivo. L. Gomes quase nos convence que D. João VI foi um grande estadista. Creio, inclusive, que um dos grandes objetivos dele era "vingar" essa personagem histórica de todas as caricatruas já feitas dele por aí. Outro ponto positivo é a narrativa de Gomes em alguns pontos. Chega a se aproximar de um thriller histórico (se eu estiver viajando muito pede para eu parar), passando em "excitação" o miolo do Símbolo Perdido. É a gostosa sensação de, apesar de você saber toda a história, se torcer para um dos lados. No meu caso, a torcida era pra que D. João VI metesse o foda-se pra Portugal e funda-se um Império no além-mar. Enfim, não preciso contar que isso não aconteceu né?

Ponto ridículo. Os dois últimos capítulos do livro. Como é sugerido pelo próprio L. Gomes, o livro poderia, com certeza, passar sem isso. Muito legal da sua parte fazer uma descoberta histórica e tals, mas por favor, escreva uma paper e manda para alguma revista de história. Minha intenção em ler 1808 não é saber se o "Arquivista Real" (musiquinha de grandiosidade ao fundo) [SPOILER, aff] teve ou não uma filha fora do casamento [fim do SPOILER].

Uma das perguntas que eu me fiz durante a leitura do livro é se eu, como um (suposto) professor de História sugeriria (ou forçaria mesmo) a leitura desse livro para meus alunos. Quase que fico no inconclusivo. Mas no fim das contas, eu realmente acho que faria uma ou outra menção em sala de aula e deixava por isso mesmo. Que a curiosidade de cada um impulsione as suas leituras. É um bom livro para dar um "showzinho" na aula, mas não vai muito além disso.

Em fim, 1808 trata-se de uma grande colcha de retalhos, muito bem retalhada, diga-se de passagem, de outros grandes livros sobre o assunto. Tanto que os pontos altos do livro são praticamente todos trasnposições (não é essa a palavra, se conseguir a que quero antes de terminar o post eu troco) de outros autores. Tem-se a tentativa de fazer um livro "bonitinho" com as figurinhas (que deve ter encarecido o livro uns 2 ou 3 reais). Não é profundo; e nem o deveria ser. Como já dito acima, 1808 faz um grande serviço de divulgação científica da história do Brasil (ainda mais com o impulso da divulgação...), e faz esse papel quase que com brilhantismo. Assim como Símbolo Perdido, 1808 não é livro no qual se pira em cima, mas também não é essa a proposta. Leitura fácil e agradável. De 0 a 10? 8. Passa com grande folga, mas não chega a ser genial.

Gilberto G.

Nenhum comentário:

Postar um comentário