segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Pianista, do herói judeu Wladislaw Szpilman

Como começar a escrever um post sobre um livro que, apesar de bastante curto, é intenso, do início ao fim, em emoções? Como escrever sobre uma história tão cruel e tão distante do cotidiano que enfrentamos?

Começo com uma dúvida. É possível imaginar o sofrimento passado pelo povo judeu na segunda guerra mundial? É possível tentar recriar a desgraça pela qual passou a Polônia naquela época (desgraça essa que é um dos panos de fundo de A Vitória de Churchil)?

Começo com uma tese.As atrocidades passadas por esses povos é tão absurda que escapa à compreensão geral. O homem médio, o homem ordinário não é, e muito provavelmente não fora àquela época, capaz de assimilar as corrupções claras aos Direitos Humanos, principalmente naquela estranha Alemanha. Diante do absurdo - o qual nunca esperamos nos defrontar - muitas vezes preferemos nos omitir, desejar que nada está acontecendo.

A falta de empatia, a falta de reconhecimento na desgraça, faz com que, apesar de repetirmos com vigor todo o absurdo passado àquela época, não tentamos perceber na pele o sofrimento alheio.

E creio que, pela narrativa de Szpilman, em forma de um diário - mesmo que não haja aquela característica divisão dos acontecimentos por dia - me leva a crer que os próprios oprimidos não queiram enchergar a opressão. Diante do absurdo, preferem fechar os olhos, pensar que dias melhores virão. Notícias ruins, e a própria realidade, são absorvidas como mera situação passageira, como um limbo necessário para que possam ascender ao paraíso.

Mas o limbo descrito no início da história, com a formação do gueto em Varsóvia e o aperto da opressão alemã, passa a virar inferno. Inferno para os mais de 500 mil judeus de Varsóvia. Uma trajetória que deságua no Umschlagplatz, o "centro de distribuição" dos últimos restantes de Varsóvia, a cidade que morre, em alusão ao título original do livro, nada mais que uma praça de despacho de seres humanos para o abate. É uma clara face da banalização do mal.

Incrível também é notar a serenidade de Szpilman em retratar os seus 3 anos de esconderijo, nos quais em grande parte deles passou em um banheiro. Isso mesmo, passar mais de 18 horas por dia dentro de um banheiro. Isso quando não em trabalhos forçados ou por baixo do forro de telhados de prédios já destruídos pela guerra.

Duro perceber a morte sempre por perto. Perto o suficiente para que ela própria seja uma alternativa para a tortura e sofrimento. Viver com venenos para que a morte indigna e dolorosa não venha.

O pianista é uma história de, desculpem o chavão, superação. Uma história de luta pela rotina! Szpilman, mesmo na fase de trabalhos forçados, se esforçava para poupar as mãos. Afinal de contas, era um pianista, e elas são seu instrumento de trabalho! Lindo observar o carinho que tem por suas composições, que o acompanha por todos os esconderijos. Também digno notar que foi o dom da música que o salva da música, quando encontra um oficial alemão que, ao ouvi-lo tocar, decide ajudá-lo a passar pelos últimos meses da ocupação alemã.

Leitura mais que recomendada. Nota 10 para a narrativa

Um comentário:

  1. Como já dito em prosas particulares, você realmente deveria escrever mais... Ângulos interessantes para a leitura, bem articulados, uma leitura gostosa e que realmente dá vontade de ir lá ler o livro.

    Quero mais, Finh... erm, Gil!

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