quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Flor da Inglaterra, do romancista anticapitalista anticomunista inglês

A Flor da Inglaterra (ou Keep the aspidistra flying, no original) é o livro da vez. Enfim, foi escrito por George Orwell, aquele romancista e ensaista inglês que virou anticapitalista, pra depois enxergar que o comunismo também não prestava. A Flor da Inglaterra é um romance que, apesar de tocar nesse assunto, não faz dele o seu ponto principal. Aliás, a grande pergunta que eu deixo aqui, qual é o ponto principal de A Flor da Inglaterra (a partir de agora, KAF)? Eu tenho duas teorias, um dessas em que acredito mais do que a outra.

A primeira teoria é a de que em KAF Orwell realmente tentava mostrar como seria a vida de alguém que travasse o que ele chamou de "Guerra contra o dinheiro", embora não veja o que Gordon Comstock, o vendedor/publicitário/poeta protagonista, fez como uma real "guerra contra o dinheiro". Essa tal guerra era travada com as mesmas armas contra as quais Gordon estava lutando. O poeta simplesmente se dizia contra o dinheiro, mas usava e, sempre que podia, o esbanjava. Creio que o que Gordon fazia está mais para um delírio depressivo contra qualquer possibilidade de sucesso do que contra uma guerra contra o dinheiro. Esta, inclusive, que chegava a ser vista com bons olhos pelo "socialista de balcão" Ravelston. Este, rico, que sustentava Gordon quando este estava em apuros. Uma saraivada de hipocrisia, tanto por parte de um quanto de outro.

Minha segunda teoria diz que o ponto principal de KAF é até onde a teimosia de um homem pode chegar, mesmo quando fundada por algum argumento irracional. E digo que esse argumento é irracional porque, mesmo que Orwell tenha se esforçado para traçar os "antecedentes" de Comstock, estes não chegam a justificar as atitudes da personagem, no máximo, tentam explicá-las. E vejo a teimosia em todos os aspectos do livro. Teimosia de Gordon, em não querer um emprego "bom", pelo simples medo de se tornar alguém comum; teimosia de Rosemary, por não querer ser decisiva na vida de Gordon (o que só alcançou quando a situação fugiu de seu controle); teimosia de Ravelston, de continuar negando sua riqueza em prol de um ideal sem grandes perspectivas na Inglaterra do entreguerras, e de continuar "ajudando" os "sanguessugas" que faziam "contribuições" para a Antichrist.

A romance, além de tentar suscitar essas discussões, tem um começo interessante, um meio quase que empolgante, e um final que simplesmente está lá para terminar o livro. Quando achamos que algo de realmente diferente vai acontecer... acontece. O problema é que é justamente o que vem se projetando a acontecer o livro todo. E Orwell, meio que já de "saco cheio" do livro", escreve suas últimas 50 páginas utilizando um tema totalmente novo, apenas com o fim de terminar o livro e mostrar que, numa junção das duas teorias que acima expus, a teimosia do homem perde contra a "guerra contra o dinheiro".

Em fim, de leitura agradável, por vezes repetitivas, mas não a ponto de cansar o leitor, KAF é uma boa pedida para leitura nas férias. Um romance que se propõe a levantar algum tema, ainda que não tenha tido muito sucesso em fazê-lo desenvolver, já que os argumentos são os mesmo por toda a narrativa. Fica aquém, por exemplo, de 1984, do mesmo autor, que tem uma aura de thriller, mesmo não o sendo, que prende o leitor do início ao fim (sim, li 1984 de uma vez só, comecei umas 20h da noite e fui terminar pra lá de 4h, 5h da manhã). Dependendo do interlocutor, uma conversa sobre o livro pode levar longe, mas sempre ultrapassará os argumentos e fatos nele exposto. De 0 a 10? 7,5, passa tranquilo, mas, com certeza, não vai ser um dos "primeiros da turma".

Gilberto G.

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