domingo, 11 de abril de 2010

Cristóvam Buarque: o semeador de utopias, de Marcel Bursztyn

Creio que esse livro foi o melhor preço-benefício que já tive em uma leitura. Apenas quatro reais para aproximadamente 140 páginas. E boas páginas. Escrito por Marcel Bursztyn no idos do ano de 1998, esse livro, parte da coleção organizada pela Editora Universidade de Brasília "Contemporâneos do Futuro", tem a pretensão de ser, ao mesmo tempo, uma biografia resumida do agora Senador, na época do livro Governador, e, principalmente, desde os 12 anos, professor Cristovam Buarque e um bom apanhado do que este pensador já fez em matéria acadêmica. Digo matéria acadêmica porque me foge palavra melhor; poderia também dizer o que Buarque fez como construtor de conceitos. O autor, Marcel Bursztyn, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UNB, foi presidente da CAPES durante o período de Ministro da Educação de Buarque.

A estrutura do livro é bastante fluida, realmente gostosinho de ler, tanto que o fiz, na maior parte do tempo, dentro de um ônibus, a caminho do estágio. Expõe a vida do biografado como uma árvore, tendo raízes, broto, tronco, ramos, frutos e sementes. Mostra-nos o caminho de Buarque até os estudos na Europa e sua volta. Também nos é muito feliz em mostrar os principais conceitos do autor, mesmo que de forma extremamente simplificada.

Vejo que o principal ponto positivo é nos fazer entender melhor um dos mais bem avaliados parlamentares brasileiros. Alguém que acredita que

Mudanças de regime político ou de governo não devem implicar a demolição nas estruturas do Estado. Estas são passíveis de transformações, mas atacá-las em seu caráter perene, causando descontinuidade, é uma manobra de alto risco. Nesse sentido, um Projeto para o Brasil, hoje, deve ter em conta o estado real das nossas instituições, e não partir do princípio de que elas devem ser desmanteladas.

Antes admirador, agora sou fã desse plantador de abobrinhas, lembrando que, quando Darcy Ribeiro proferiu sua já célebre conferência Universidade Pra Quê? quem estava ao seu lado na mesa era o Reitor Buarque, que, "quando crescesse gostaria de ser Darcy Ribeiro".

Um dos grandes conceitos que levo o do livro é que ao invés de propormos distribuição de renda, devemos é promover a distribuição de oportunidades. Seu passo em relação a essa idéia foi o bem fadado (e hoje meio descontextualizado) Bolsa-escola, um programa social que divide a responsabilidade do governo com o beneficiário, ao ter este que manter o filho na escola.

A mudança da Modernidade Técnica para a Modernidade Ética, temática que deve estar presente nos estudos do CDS e do CEAM, ambos departamentos transdisciplinares criados em sua reitoria, nos leva a pensar também em uma outra forma de mensuração do sucesso de uma nação. Sai PIB, entra um medidor capaz também de avaliar aspectos sociais. Enxergo o IDH e o índice de Gini como algo parecido com a proposta (devemos lembrar que o livro é de 1998).

Acho também muito válidos os quadros do livro, que reproduzem as idéia do livro A revolução nas prioridades, de 1994. Reproduzo aqui dois deles:

Dez Erros da Modernidade Brasileira
I. A implantação de uma política de substituição de importações de bens industriais, sem modificação na estrutura de propriedade de terra e no produto da agricultura, que continuou baseada em latifúnidos voltados para as exportações;
II. A industrialização com base em uma opção por técnicas desadaptadas aos recursos naturais, às características culturais, às necessidades sociais e ao potencial econômico do Brasil;
III. A ditadura;
IV. A concentração de renda;
V. O endividamento;
VI. A ênfase nas exportações, no lugar da construção de um mercado interno;
VII. A prioridade à infra-estrutura econômica, com abandono da infra-estrutura social;
VIII. a cartorização, a corporativização e a concentração econômica;
IX. A implantação de um sistema de produção do saber e de comunicação social voltados aos interesses individuais, à dinâmica do mercado e à alienação cultural, sem compromisso educativo nem sintonia com a cultura nacional;
X. a democratização política não acompanhada de mudanças nas prioridades socioeconômicas.


As Dez Prioridades que Mudariam o Brasil: o caminho da modernidade técnica para a modernidade ética
I. Uma população educada e culta
II. Um país sem fome
III. Não se morrer antes do tempo e viver com saúde
IV. Modernização da cultura, no lugar de cultura da modernidade
V. Ciência e tecnologia a serviço da modernidade
VI. Sustentabilidade ambiental do desenvolvimento
VII. Ocupação descentralizada do território e cidades sustentáveis
VIII. Eficiência econômica aferida por indicadores de qualidade de vida
IX. Resultados sociais como determinantes da ação do Estado
X. Política externa independente, garantindo a soberania nacional.


Partes muito interessantes foram as mostras do caminho de Cristóvam tanto para a Reitoria como para a Governadoria do Distrito Federal, suas dificuldades e inovações.

Dessa forma, dou notinha 9,5 para esse pequeno livro, quase um folheto, que tem como propósito apresentar esse grande Brasileiro, que, como bem me lembro, nas eleições presidenciais de 2006, ao ser indagado se era um candidato de uma só bandeira (a educação) responde: Sim, sou de uma só bandeira, a bandeira do Brasil!

Termino esse texto com uma fala do próprio Cristovam:

Cada pessoa é a soma das respostas que deu, ao longo de sua vida, às perguntas que lhe foram formuladas. O sucesso depende dos acertos nas respostas. Mas os homens que mudam o próprio destino são aqueles que não se limitam a acertar respostas, mas também criam as próprias perguntas certas para o momento

Gilberto G

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