quarta-feira, 7 de abril de 2010

Triste Fim de Policarpo Quaresma, do Mulato pré-Modernista

Enfim, farei uma breva análise desse romance que é considerado a obra-prima de Lima Barreto, o tal mulato prá-Modernista. Autor o qual me interessou bastante, se aproximando, no seu realismo, só que de um jeito um pouco mais ácido, de Machado de Assis. Me deu vontade de ler a sua sátira "Os Brazundungas".

Triste Fim de Policarpo Quaresma (a partir de agora, TF) conta a história do "major" Quaresma, funcionário público que, desde a mocidade, tem idéias patrióticas, mas que, apenas em idade mais avançada, por volta dos seus 50 anos, começa a tentar pô-las em prática.

Para tal expediente, utilizou-se de três projetos. O primeiro, rechaçado e com o qual receberia sua (má-)fama, é a petição ao Congresso com o fim de que se tenha o Tupi como língua oficial brasileira. Pela primeira vez é mostrada a determinação de Quaresma, que chega mesmo a aprender tal língua. Foi essa idéia que culmina com a sua internação em um hospício.

Não é só a morte que nivela; a loucura, o crime e a moléstia passam também a sua rasoura pelas distinções que inventamos.
Hoje em dia teria minhas dúvidas em incluir o crime e a moléstia...

O segundo projeto, o sítio Sossego, após início empolgante por parte de Quaresma, é atacado por formigas e pela falta de fertilidade. É abandonado por Quaresma quando do acontecimento da Revolta da Armada, que acaba por datar o romance, mas não de uma forma determinante, já que o sentimento de Quaresma não é um sentimento exclusivo daquela época. Aliás, muito do que Lima Barreto escreveu no começo do século passado pode ser transcrito para os dias de hoje sem que haja uma grande defasagem nos sentimentos, principalmente no que concerne ao Estado e aos serviço público.

o terceiro projeto é justamente lutar por Floriano Peixoto na revolta da armada. mais uma vez é visto sua determinação nos estudos militares, já que o major se devia mais a uma brincadeira do escritório em que servia, no exército, do que de fato a sua posição hierárquica naquela instituição.

Enfim, o final da história é realmente triste (doh, tá no título), e nos dá uma nota de pessimismo. vai de encontro àquele papo de que se você quiser com muita vontade e fizer por merecer acontecerá. Não é isso que acontece. O que acontece é que, momentos antes de ir para o fuzilamento, Quaresma vê como foi tolo por toda a sua vida, por ter dedicado sua vida a um conceito tão abstrato quanto é o de nação (me lembrou até do livro de Hobsbawm que vimos hoje na Cultura).

E era assim que se fazia a vida, a história e o heroísmo: com violência sobre os outros, com opressões e sofrimentos.

Entretanto, vê-se em TF no que pode ocasionar um patriotismo exarcebado, assim como outros sentimentos exarcebados também pode levar à ruína. É necessário se fazer uma distinção entre orgulho e interesse em sua terra natal, ao seu berço de nascimento, do patriostimo fanático. Diferenciar raiz do resto da planta. Creio que não erraria se dissesse que o principal erro de Quaresma foi confundir a pátria com que a dirige. Ou, mais além, confundir a pátria com o seu povo, ou, ao menos, com o estereótipo idealizado ou com o estereótipo "desidealizado".

Enfim, apesar do "sofrimento" para conseguir passar as últimas páginas, e de um e outro termo um pouco mais antigo, temos em TF uma leitura até que aprazível, utilizando-se de boas referências históricas (hoje, já que era o que acontecia à época) para a construção do enredo, assim como metáforas que se utilizavam de obras importantes da literatura. Texto recomendado para quem se interesse pelo Brasil do começo do século passado. Nota? 8. MS médio.

Gilberto G.

Um comentário:

  1. Não resista à sua vontade! Leia Os Bruzundangas e não vai se arrepender, é o meu favorito do Lima Barreto. Boa Leitura!

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