terça-feira, 4 de maio de 2010

Participação de homens no curso de Promotoras Legais Populares

1. Da Antecipação da Reunião

Antes de entrar no real motivo da reunião, farei apenas uma pequena nota. É o modo como o assunto é tratado. Ao invés de se tratar a participação de homens no curso de PLPs como uma forma de se repensar os objetivos e pressuspostos do grupo, relegou-se a discussão a um problema secundário. E tal secundarização do debate ocorreu pelas duas partes, tanto contra quanto a favor.

Isso mostra que essa é uma situação sem importância, que tanto faz a participação ou não de homens no grupo. A proposta da reunião é interessante, mas creio que, principalmente agora, com uma semana a menos de "preparação" para ela, não serão levantados novos argumentos. Será a mesma argumentação unilateral anterior.

2. Curso como espaço político

Um dos argumentos contra a participação dos homens é que o curso de PLPs é um espaço político, provavelmente o "único na vida daquelas mulheres a ser exclusivamente feminino".

Não faço coro a esse ponto de vista. Não vejo como tal curso pode ser encarado como espaço essencialmente político. Enxergo, antes de disso, o Fórum de PLPs como esse espaço. Tal Fórum é formado apenas pelas PLPs formados, ou também pelas em formação. Tal pré-requisito restringe a participação desse espaço às mulheres. Além disso, o Fórum é um espaço aberto, onde a reunião das mulheres tem um viés puramente político.

O curso, do qual a UnB é parceira por meio da participação de extensionistas, no meu ver, não tem esse característica notadamente política. Penso que as próprias participantes do curso, ao se inscreverem, não estão pensando em participação política, mas sim em aprendizado. Se a coordenação do curso quer fazer com que essa seja um espaço também político, tem que se articular mais na divulgação do curso, assim como no seu desenvolvimento.

3. O feminismo dentro do curso

Qual é o feminismo dentro do curso? É possível falar de diferentes feminismos? Realmente não sei responder a ambas perguntas.

Creio fortemente que essa tem que ser uma pergunta que a coordenação do curso tem que responder. Além disso, vejo também em outros momentos do curso uma dificuldade em relacionar os temas tratados com a questão dos direitos das mulheres. O curso é feminista em alguns assuntos, mas não todos.

É um problema enfrentando também pelo movimento feminista dentro do marxismo. É uma questão dentro da "revolução" ou a parte dela? Há "intersecções? É outro ponto que temos que refletir todos os dias. Esse é um curso que adota pontos marxistas? Outros pontos de vista, ou, "falando sério" outras teorias, são bem-vindas. Indo ainda mais longe, num projeto como esse, a diversidade de opiniões é bem-vinda? Se o curso é político, qual a posição política dele?

4. A participação dos membros da UnB

Qual deve ser a participação dos membros da UnB no curso? Essa é uma pergunta a qual muitas vezes fiz nesse mês de ausência. Creio que a participação do Betinho no princípio do curso esse ano tenha ocorrido uma mudança do modo de se ver essa participação.

Em primeiro lugar, não devemos estar em posição superior às mulheres do curso. Não podemos estar em uma postura de quem "observa". Temos que saber exatamente o que devemos estar fazendo ali, e caridade não faz parte de nossas atividades.

Em segundo lugar, não devemos estar em posição inferior às mulheres do curso. Não pode ser papel dos estudantes da Unb estar na Ceilândia para "servir o lanche" ou "preparar a sala para os oficineiros". Temos, cada vez mais, que incentivar as mulheres a organizarem por si próprias o lanche, assim como a formatura do fim do ano.

Nesse ponto, aposto na saída não só dos homens, mas de todos os participantes do projeto que não tenham o objetivo de se formar Promotora Legal Popular. Temos que assumir os postos de oficineiros, e não de "serviços gerais" do curso. Temos que assumir um papel pró-ativo, embora afastados do cotidiano do curso, sem tomar para si um papel de opressão.

5. Sobre a legitimidade da atuação dos homens

Sobre o discurso de que a participação dos homens deslegitima um espaço exclusivamente feminino tenho algo a acrescentar. Creio que esse discurso é mais prejudicial ao projeto do que a própria participação de homens. Ao deslegitimar a participação de homens, perde-se experiências diversas, perde uma outra forma de se enxergar tudo. Os homens nunca poderão enxergar o mundo com os olhos de mulheres. E por isso mesmo é importante a participação masculina no projeto. Tem-se que estar aberto para diálogos!

6. Trechos interessantes do texto "Olhar o Mundo com Olhos de Mulher?"

'Disto concluímos que o papel dos companheiros homens não é, evidentemente, participar, disputar a direção, representar quem quer que seja junto ao movimento de mulheres. A contradição básica que aqui se coloca é se o companheiro homem pode deixar, uma vez aceitando politicamente a questão feminista, de ser o opressor nas relações socialmentte estavelecidas na sociedade atual.'

'Nao se supera a condição de opressor decidindo não sê-lo.'

'Isto significa dizer que a simples decisão política de aceitação de princípios feministas não altera a realidade da opressão, se as relações objetivamente estabelecidas não se alteram.'

'É verdade que não se pode compreender em toda a sua complexidade o que não se sente, trata-se então de definir o que sentimos como homens que vivem a relação da opressão patriarcal no papel de opressor.'

'Se as pessoas se preocupassem menos com os nomes com que rotulam e mais com as práticas a serem desenvolvidas, esta questão talvez estivesse colocada em outro enfoque.'

'A necessária luta das mulheres, a sua especificidade, não pode fazer as companheiras se distanciarem da percepção que toda luta por igualdade pressupõe a afirmação da desigualdade, que além da luta imediata, e através dela, existe a luta pelo fim da opressão, da transformação das relações entre os sexos, de uma novasexualidade e um novo padrão de reprodução que não se baseie na opressão da mulher e na escravização das crianças. Nesta luta a relaçãocomos homens deve ser pensada na complexidade de sua particularidade como opressor-aliado.'

O nosso grupo tem que atentar para o fato de que o papel dos homens no curso de Promotoras Legais Populares não é o de opositor. É o de contraponto. Não estão lá para propro uma nova construção, mas sim para ajudar a construir. Tem-se que se decidir se essa aliança é ou não bem-vinda.

7. Resumindo

Sou a favor da permanência de homens no projeto de extensão que cuida do curso de Promotoras Legais Populares, apesar de ser contra da permanência cotidiana de qualquer membro da extensão que não esteja se formando PLP, o que exclui todos os homens.

Incentivo uma atividade de repensar o grupo, quais são os "princípios fundadores" e o que é que nos une hoje. Tal reflexão deve resultar na decisão de se ter homens simplesmente como opressores ou como possíveis aliados na causa da libertação das mulheres.