quarta-feira, 7 de abril de 2010

Morro dos ventos Uivantes, da inglesa monotítulo

Após uma grande ausência, aqui vai mais uma resenha. Se trata do livro Morro dos Ventos Uivantes, Wuthering Heights no original, a partir de agora MVU, da inglesa Emily Brönte. Sim, antes que perguntem, só peguei o livro pra ler porque ele é "o livro favorito da Bela de Crepúsculo" (não que eu seja um fã de Crepúsculo, mas convenhamos, é tão difícil a cultura pop fazer referência a alguma coisa que presta que tive que me render). A autora, como nos mostra a introdução do livro, cuja primeira tradução brasileira é de Raquel de Queiroz, nossa primeirA imortal, tem uma história tristinha, sofrida e tals, e usou sua própria desgraça para dar alguns tons na obra. Enfim, nada original, mas muitas das nossas maiores obras-primas são feitas desse jeito, fazer o que né?

A história é sobre um monte de gente com nomes muitos parecidos. Entre Catherines, Heathcliffs, Lintons e Earnshawns, só resta a confusão. Mas no fim das contas é o seguinte. Catherine "the first", a Earnshaw, é apaixonada por Heathcliff, o fodão que era grosso acanhado e, quando grandão, quer se vingar dos Linton, cujo representante Edgar se casa com Catherine. Enfim, daí pra frente é uma confusão de famílias e de gerações, desgraças após desgraças, "numa das mais belas histórias de amor já escritas"...

Creio que uma das coisas interessantes no livro é o rodízio de narradores. É um artifício que só contemporâneamente vem sendo mais usado, e que Brönte usou, ainda que desajeitadamente. O narrador-mor, digamos assim, Mr. Lockwood, é um outsider da história, inquilino do Heathcliff, que ao conhecer Ms. Nelly Dean, espécie de governanta tanto de Trushcross Grange e Wuthering Heights, paradas de onde se narra a história, pede que ela lhe conte a história do seu estranho locador. Daí tem-se que Ms. Dean é a real narradora da história, já que Lockwood apenas reproduz suas palavras. É uma forma interessante de se obter uma pretensa imparcialidade no narrador.

Sobre passagens admiráveis no livro, pora minha ingrata surpresa, não são lá muitas, já que o livro se perde muito em passagens deploráveis e diálogos volumosos mas pouco densos. Aliás, essa é uma característica que creio ser presente nos livros da época, em que a leitura já era razoavelmente difundida e não havia outro modo de comunicação mais rápido: a prolixidade.

Vou-me dirigindo ao fim. Esse livro, que foi lindo em boa parte do tempo dentro de um ônibus, nunca entraria numa lista de TOP 10 do ano. É um romance quase que como qualquer outro, só que baseado na desgraça de seus protagonistas. [SPOILER} O grande problema é que, quando vamos nos dirigindo ao desfecho da história, já calejados de tantes desventuras e de tanta maldade acumulada nos coraçõezinhos de pedra dos malfeitores, eis que acontece o bem. O malvadão morre pra ficar com sua amada defunta e mocinha-que-havia-perdido-tudo-por-casar-com-o-primo-filho-do-vilão-que-morre-jovem fica com seu primo-grosso-que-foi-criado-pelo-vilão-depois-de-seu-pai-irmão-da-primeira-Catherine-morrer. Em outras palavras, amargamos por volta de 260 páginas de mais absoluta tristeza para passar por 30 de mais bela felicidade. Tenha dó.

As notas, claro. Dou 5,5. Já disse, apesar de clássico, não me empolgou. Não chego a reprovar o livro ou desaconselhar a leitura. Mas certamente não seria um dos que prontamente indicaria. É um romance desgracento maçante sobre personagens frustrados com tudo e com todos. A tempo, adoro Nelly Dean com todo o seu "queria estar fazendo o bem para todos mas só faço cagadinha".

Gilberto G.

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