quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Meu coração é affectio tenendi


Meu coração é res derelictae, coisa sem dono. Coisa móvel, acessório do meu eu, não se trata de pertença. Apesar de às vezes duvidar, é infungível, afinal, não hei de aceitar coração outro ao final de um empréstimo. Que o comodatário o trate bem; não há perdas e danos que compensem o prejuízo causado.

É indivisível, embora sua composse seja possível. É situação instável, entretanto. Não queira viver com um coração com múltiplos posseiros. Esbulhos e turbações serão inevitáveis e, em matéria de bem-querer, não há ação possessória ou petitória que resolva a situação. Não é consumível, embora produza frutos (naturais ou civis? Reais ou fictos? Dúvida terrível!) que são de livre uso pelo dono, em qualquer horário e lugar.

Benfeitorias foram feitas, embora nenhuma fosse realmente necessária. Enquanto res nullius estivera bem, sem as benfeitorias úteis, e, principalmente, as voluptuárias, que acompanham um amor. O problema de tais benfeitorias é que não podem ser levantadas sem prejuízo da coisa principal. Não tive escolha. Arquei com a perda, já que o valor de tais benfeitorias em muito superavam o valor de superfície (ou pelo menos foi isso que me fizeram acreditar...).

Quem o tiver por bom e caro, por favor, não queria recompensa, não se trata de descoberta, mas sim de ocupação. Atente bem, é forma originária de aquisição, não há de se preocupar com antigos possuidores. Não há necessidade de tradição ou registro. Basta a affectio tenendi. Basta ter afeto suficiente para querer o ter.

Meu coração é res derelictae, coisa à espera de dono.

Nenhum comentário:

Postar um comentário