domingo, 13 de novembro de 2011

11/11/11 – A Histeria da Periodização


Esta sexta-feira que se passou foi o “marcante” dia onze, do mês onze, do ano dois mil e onze (apelidado por alguns como Romario’s Day, em homenagem ao baixinho artilheiro do futebol). Trata-se de uma curiosa coincidência. O ponto desse texto é marcar que, além de curiosa, é uma coincidência inevitável. A partir do momento em que o homem começou a contar o tempo de forma cíclica, momentos como este, no qual os “dígitos marcadores” coincidissem, aconteceriam de qualquer forma.


O que se observa em um dia como este, entretanto, é uma pequena histeria generalizada. Não faltam matérias na televisão, principalmente no jornal local ou no “das donas de casa”, geralmente com escassez de material a ser explorado, sobre o quão “diferente” é o dia. Não são raros os depoimentos de sensitivos, numerólogos, astrólogos e outros com ligação com o divino ou com o sobrenatural afirmar o quão especial será o dia. Até uma ligação com o onze de setembro, dia que por si só já nos implica uma periodização, foi levantada, a fim de mostrar-nos que o onze é um dia em que as coisas “acontecem”.

Porém, esta data é diferente do já falado onze de setembro (que de tão fresco na memória dispensa o ano), do quatorze de julho de mil setecentos e oitenta e nove, do vinte e nove de maio de mil quatrocentos e cinqüenta e três, do quatro de setembro (data especialmente marcante para este autor) de quatrocentos e setenta e seis e tantas outras datas que a História, ou melhor, o Historiador, escolheu ressaltar. O dia onze do onze do onze é uma data marcada apenas pela curiosidade numérica, não por um evento político-histórico.

 Ou melhor, a insignificância do onze do onze do onze reside no fato de ele ter ocorrido na sexta apenas por causa de uma outra periodização, aquela que estabeleceu qual seria o dia primeiro do mês primeiro do ano primeiro. Esta sim, uma periodização política por natureza, que indica quem é o dono do tempo.

A divisão de eras entre antes e depois de algo é um ato político que apenas quem detém poder sobre os homens e seus ciclos pode estabelecer. A tentativa revolucionária francesa mostra que não é um atos simples. Talvez nem mesmo volte a ocorrer. Apenas uma ideologia globalmente dominante poderá, novamente, resetar nosso calendário.

Assim, outras datas engraçadinhas ocorrerão simplesmente pelo tempo ser contado de forma cíclica e por se ter estabelecido um marco inicial. São insignificantes pois este marco inicial poderia ser qualquer outro que não o atual. Ou seja, foi um “acidente” que sexta tenha sido o dia dos onzes. Poderia ter sido qualquer outro dia. Ser o dia setecentos e trinta e quatro mil trezentos e cinqüenta e seis depois do início de uma contagem não faz um dia especial (descontando-se anos bissextos, alterações de calendários no meio do caminho entre outros).

Apesar de ser uma gostosa brincadeira, não podemos deixar que o calendário nos governe. Seu caráter cíclico é importante para que possamos cadenciar nossa existência, mas apenas isso. Não nos deslumbremos com os números da folhinha. Esses dias não significam nada para a História, não nos faz lembrar nada. Atenhamos aos números que nos dizem algo, seja politicamente, como o sete de setembro, seja pessoalmente, como um aniversário, para que nos aprofundemos em uma reflexão sobre tal fato.

Que o caráter cíclico do tempo nos auxilie a refletir sobre Homem e o Tempo, e não a nos fazer crer que os onze fará do dia algo especial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário